A história detalhada dessa empreitada está contada no livro O Sonho que decolou (Bizz Editorial -2014), do fundador da Embraer, o engenheiro Ozires Silva, que viu ser criado o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e hoje é reitor de universidade. O livro é o relato comovente sobre jovens engenheiros, técnicos e militares brasileiros que com afinco tentavam fazer, de fato, um sonho decolar. Segundo o autor, o Bandeirante era mais do que um avião, “era a demonstração viva de uma tese”.
Para Ozires Silva, a concretização desse sonho só foi possível porque antes se preencheu uma lacuna no ensino brasileiro: a formação de engenheiros especializados.
A EMBRAER propriamente dita operou a partir de fevereiro de 1970, vivenciou dificuldades que pareciam incontornáveis, mas sobreviveu e se tornou uma referência no mundo aeronáutico nacional e internacional. De economia mista no começo, a empresa foi privatizada em 1994 e passa atualmente por um processo de fusão (joint venture) com a americana Boeing.
Mas nada da EMBRAER foi fruto de improvisação, embora a forma de se trabalhar no Brasil tenha obrigado sua equipe inicial a correr sérios riscos. Prova disso foi o disparate que encontrou, à época de sua fundação, na cooperação com Max Holste, um importante construtor francês que aceitara o desafio de ajudar a fazer um protótipo no Brasil, mas acabou por se deparar com condições que julgava imprudentes demais. A equipe brasileira decidira fazer demonstrações do modelo Bandeirante em todo o país, mas Holste protestava porque o avião ainda não estava homologado. Mesmo dando razão ao colaborador, Ozires Silva pondera: “Não éramos a França. Éramos o Brasil. E isso fazia enorme diferença na maneira de ver as coisas.
(…) Tínhamos de reconhecer que estávamos (…) num país de decisões lentas, de muita burocracia, de relações pessoais complexas, onde tudo requer uma boa dose de paciência”. (…) A grande diferença é que os franceses se encontravam num outro estágio de desenvolvimento econômico”.
Por fim, Max Holste decidiu partir, pois não acreditava na aposta da equipe brasileira. Enganou-se e mais tarde reconheceu isso. A ousadia fora necessária para aquele “desbravamento” no ramo da indústria aeronáutica, ainda que a presença francesa na aviação nacional viesse embalando as ambições nacionais desde o início. Ozires Silva, que se especializou nos EUA, reconhece: “Santos Dumont selecionou a França, berço de todas as importantes inciativas no campo da aeronáutica (…)”.
A história da EMBRAER é também a de seu fundador, Ozires Silva, que antes de se tornar engenheiro aeronáutico, foi piloto militar. A empresa é a comprovação da tese que ele anunciava: de que o recurso maior para o sucesso está no próprio ser humano. O bandeirismo de seu primeiro avião refletia, pois, o de jovens que se embrenharam por caminhos incógnitos e até hostis a fim de atingir um objetivo maior.
O engenheiro, hoje com mais de 80 anos, ainda “professa sua fé”, atuando na área da educação superior. Ele endossa, com o trabalho de um incansável exemplar, o que afirmou em seu livro, sem reservas: “A EMBRAER pode ser citada como uma vitória da Educação”.
Veja também o depoimento de Ozires Silva à AMAB em setembro de 2018.