Patrimônio Imaterial

Histórias de Príncipes

Dom João Maria de Orléans e Bragança

Dom João Maria de Orléans e Bragança

Membro da Família Real brasileira, Dom João Maria de Orléans e Bragança (1916-2006), foi também aviador e piloto da Força Aérea Brasileira – FAB. Neto da Princesa Isabel, Dom João desejava fazer parte da Marinha do Brasil, mas o então presidente Getúlio Vargas não via com bons olhos a presença de um príncipe na instituição.
Assim, Dom João acabou se inserindo na aviação naval e, mais tarde, pelo decreto de 1941 (e a fundação do Ministério da Aeronáutica) unificando as Armas da Aeronáutica do Exército e do Corpo de Aviação Naval, ele passou a ser da FAB. Ele teve, inclusive, o cargo de instrutor auxiliar de pilotagem no Campo dos Afonsos.

Dom João no colo de sua avó, a Princesa Isabel.

Dom João no colo de sua avó, a Princesa Isabel

Durante a Segunda Guerra Mundial, Dom João realizou uma significativa missão nos Estados Unidos, em 1942. Esta viagem ele narrou na revista Esquadrilha do mesmo ano. Dom João também fizera parte do Correio Aéreo Nacional – CAN. A partir de 1944, ele integrou o 4º Regimento de Aviação e patrulhou a costa brasileira pilotando o Catalina.

A Historia de um principe Por ocasião de sua estada nos Estados Unidos, um fato interessante veio somar-se à biografia do nobre príncipe de Orléans e Bragança. Acompanhado do jornalista francês, casado e radicado no Brasil, Jean-Gérard Fleury, em Nova York, ele foi por este apresentado ao piloto-escritor Antoine de Saint-Exupéry, que vivia no país naqueles anos e acabara de lançar seu livro Flight to Arras (Piloto de guerra). Ao encontro também estava presente o artista plástico Bernard Lamotte, amigo de Saint-Exupéry que havia ilustrado a edição americana de Piloto de Guerra. Não é que Dom João e Lamotte se lembraram de terem sido colegas, quando meninos, das aulas de desenho de Madame Papin, em Paris?

Esse fato anedótico e raro foi trazido à tona na biografia de Dom João (páginas 209-210), A História de um príncipe, escrita pelo jornalista João Alberto Gueiros e publicada pela editora Record (1997). Dom João teria guardado de Saint-Exupéry uma lembrança terna e profunda, a de um homem dilacerado pela situação da França na guerra, mas cheio de lucidez.
Assim, reforçando os laços entre as culturas francesa e brasileira, a história de um príncipe brasileiro cruza, literalmente com a do autor de O Pequeno Príncipe.

Testemunhos

JOSEPH KESSEL – Mermoz, 1938 (Editora Gallimard)

Amigo sobretudo de Jean Mermoz e Marcel Reine, Joseph Kessel, que também conheceu Saint-Exupéry, escreveu a biografia do ás Mermoz em 1938, pouco tempo depois do desaparecimento do amigo sobre o Atlântico. Antes de lança-la, Kessel peregrinou por todos os locais por onde esteve Jean Mermoz. E conta sua experiência na casa de Itaipava por volta de 1932:

Mermoz pegou o avião-correio, foi ao Rio, passou algumas noites agradáveis com eu amigo Joméli, acompanhou Marcel Reine na fazenda desse. Era, nas montanhas do inteiror, uma propriedade imensa com vales, colinas, floresta, que Reine havia adquirido por alguns milhares de francos. Repousava ali, às verzes, de seus voos, mas sobretudo de uma vida noturna tão movimentada e barulhenta que seus vizinhos brasileiros davam alguns tiros de revólver sobre suas janelas para parar o bacanal. Mermoz e Reine cavalgavam através da fazenda, que Reine, aliás, nunca conseguiu explorar inteiramente.

Passei um dia nessa espécie de éden primitivo. Reine há três anos estava fazendo a Cordilheira. Os cavalos que havia motnado com Mermoz retornaram ao estado selvagem”.

Documentos

José Augusto Wanderley, proprietário atual da casa de Marcel Reine, possui a escritura de quando a mesma foi vendida a seu pai pelo piloto, em 1939.

Os testemunhos sobre a presença dos pilotos da Aéropostale na casa de Itaipava são sobretudo dos partícipes à época, como Jean-Gérard Fleury e Joseph Kessel, além de vizinhos no local, cujos depoimentos foram colhidos pela senhora Daura Barbosa de Resende. Kessel em suas descrições, em obra dedicada a Jean Mermoz, menciona o local.

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Uma Lenda

A chamada “pedra do elefante” em Itaipava-Petrópolis foi assim designada localmente por assemelhar-se ao desenho da jiboia que deglute o elefante na obra O Pequeno Príncipe…. Fala-se, na cidade, que teria sido inspiração para Antoine de Saint-Exupéry…

Pedra do Elefante (foto por Celina Prates)