Exposição

Natal

O ponto mais avançado

Mapa Aéroplace Natal. Acervo: Musée Air France.

#01

A cidade de Natal é um caso extraordinário no que se refere à aviação. Antes que a capital do Rio Grande do Norte florescesse, os aviões ensejaram o verdadeiro desenvolvimento dessa região ainda distante da antiga capital federal (Rio de Janeiro). Com a chegada da aviação, Parnamirim e Natal se tornam praticamente um polo aeronáutico e isso não cessaria mais.

E o pioneirismo ficou com os franceses, pois Paul Vachet ali aterrissou em de 1927.

Instalações da escala de Natal. Acervo: Fondation Latécoère
Hidrobase de Natal. Acervo: Fondation Latécoère
Hidrobase de Natal. Acervo: Fondation Latécoère

#02

Até poesia virou essa história...

Paul Vachet em sua carteira da Associação dos Profissionais Navegantes e de Aviação (frente e verso). Acervo: João Batista Martins Jr
Paul Vachet em sua carteira da Associação dos Profissionais Navegantes e de Aviação (frente e verso). Acervo: João Batista Martins Jr

#03

O estabelecimento da Latécoère (hoje C.G.A.) em Natal divulgou o avião. Humanizou-se a figura do aviador. Habituou os ouvidos ao ronco rítmico dos motores. Já não é possível assombrar-se um natalense ante um avião”.

(...)

“A companhia francesa foi a velocidade inicial. Aquela multidão viva, sã, álacre, cheia de rumor e de vida, armando aviões e riscando no ar os caminhos sem rastro para as trajetórias longínquas a Buenos Aires, a Assunção, ao Chile, pulando o Atlântico e os Andes, com a despreocupação de um fato natural (...)”

Câmara Cascudo em “O Caminho do avião”. Notas de reportagem aérea 1922 - 1933.
Os hangares da Aéropostale em construção, Parnamirim, 1927. Acervo: João Alves de Melo
Vestígios do que foi a “vila” Jean Mermoz na base de Parnamirim. Moradia de oficiais homenageava o piloto francês. Acervo: AMAB
Breguet aterrissado em Natal. Acervo: Fondation Latécoère

#04

Ponto mais avançado para o mar do mapa do Brasil, Natal se tornou a escala onde os navios deixavam o correio provindo da Europa. Dali é que os aviões iam transportando as cartas até Buenos Aires e Santiago. Mas em 1930, um evento sem igual marcaria definitivamente a importância de Natal para a Aéropostale: a travessia do oceano, realizada por Jean Mermoz em 12 de maio, a bordo de um hidroavião Laté-28.

Tripulação da primeira travessia do Atlântico em 1930. Acervo: Fondation Latécoère
Navio Aviso Aéropostale I. Acervo: João Alves de Melo

#05

Puxei um pouco os manetes de gás e a alavanca do comando. O hidravião reganhou altura. Gimié recolheu a antena.

Natal estava abaixo de nós, fiz uma viragem perto da ponta e arremeti para a base da Aéropostale instalada sobre o rio Potengi.

Realizei uma grande curva, fiz uma ‘tomada do terreno’, o aparelho passou perto das lanchas, se aproximou do rio e a amerissagem foi fácil.

Em 21 horas exatamente, havíamos trazido o correio de São Luís (Senegal), transportando-o de Toulouse a São Luís em 24 horas por Beauregard, Emler e Guerrero, que se revezaram.”

Jean Mermoz, do livro Mes Vols, 1937.
O piloto Jean Mermoz. Acervo: Fondation Latécoère
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#06

A gloriosa travessia foi festejada e noticiada. Com os anos, foi revivida e comemorada. O herói Jean Mermoz, ás dos ases, viria a desaparecer com sua tripulação sobre o Atlântico em 7 de dezembro de 1936, certamente por um problema no avião. Todavia, os tripulantes da primeira travessia de 1930, tiveram o prazer de voltar a Natal para comemorações posteriores.

Reportagem sobre Mermoz na Revista Manchete, 1955. Fonte: Revista Manchete Mermoz: um quarto de século de França-Brasil, 21 maio 1955, ed. 161. Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional. Disponível em: Link. Acesso em: 1 jul. 2019.
Ilustração do desaparecimento de Jean Mermoz. Acervo: Fondation Latécoère

#07

Depoimento de Jean Dabry para a revista Manchete, 1955. Fonte: Revista Manchete. A barreira infernal, 11 de junho de 1955, ed. 164. Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional. Disponível em: Link. Acesso em: 1 jul. 2019.

O retorno da tripulação de Natal para São Luís do Senegal foi outra história...

O rio Potengi está impraticável para decolagem. Temos de achar outra pista d’água.

Na manhã seguinte, Mermoz voou, bateu a costa ao sul de Natal num raio de 200 km e, a 60 km, percebeu a lagoa do Bonfim, que lhe pareceu propícia para seu intento. Ela tinha 30 km de comprimento, 16 de largura e o vento sudeste a cortinava com um leve marulhar, indispensável para a decolagem."

Joseph Kessel, Mermoz, 1938
Jean Mermoz em Natal. Acervo: Fondation Latécoère
Jean Mermoz em Natal. Acervo: Fondation Latécoère

#08

Foi assim que no dia 8 de junho de 1930, os aviadores partiram de volta à África com o correio. No entanto, um acidente no meio do oceano fez soçobrar o avião. Antes, felizmente, a tripulação foi salva por um navio, assim como o correio.

No exato instante em que eu pensei que seria obrigado a capitular, entrevi a possibilidade de fazer uma quinquagésima-terceira tentativa de decolagem.

(...) E às 16:30h, nosso hidravião se elevou da lagoa num minuto, com uma facilidade irrisória.

Devíamos nossa vitória ao vento sudeste.”

Jean Mermoz, do livro Mes Vols, 1937
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#09

Os vestígios da Aéropostale são numerosos em Natal. Se já não formam um conjunto, permanecem como a testemunhar um glorioso passado na cidade. A Base Aérea de Parnamirim tem em seu interior várias casas que foram usadas pela antiga estrutura da escala.

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#10

O autor do famoso livro Meu pé de laranja lima (1968), José Mauro de Vasconcelos (1920-1984), foi criado em Natal e tem memória da passagem dos pilotos franceses.

Curiosamente, devo ter conhecido Exupéry. É que meu pai era médico da Air France. Naquela fase em que as primeiras linhas internacionais se preparavam para se instalar no Brasil. Os aviadores franceses passaram por Natal. Jean Mermoz me carregou nos ombros. Lembro-me dele em todos os detalhes. E talvez tenha conhecido Exupéry nessa época, em 1930”.

“As confissões de José Mauro de Vasconcellos”, Revista Manchete, 1973. Fonte: SANTOS, José Maria dos. Manchete. As confissões de José Mauro de Vasconcelos, 1973, ed. 1115. Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional. Acesso em: 1 jul. 2019.
Henri Delaunay, de óculos escuros, em piquenique com os camaradas da Aéropostale na praia de Ponta Negra em Natal. Acervo: Fondation Latécoère
Saint-Exupéry. Acervo: Succession Saint-Exupéry
Avenida Saint-Exupéry em Natal. Acervo: Kalina Veloso