O jornal A Federação de 15/01/1927, informa sobre a localização do terreno de pouso de Porto Alegre: “O campo de aterrissagem será realizado na Invernada da Brigada Militar, nas proximidades do Rio Gravataí”.
Todavia, quando do primeiro Raid Latécoère (1925), a referência que se encontra é a do “Campo da Várzea do Gravataí”.
O campo da várzea do Gravataí fora de fato cedido à Brigada Militar. Ali, o coronel Emílio Massot, então comandante, retomou junto ao Governador Borges de Medeiros, em 1923, a ideia de ter-se uma escola de aviação para instrução militar (ideia de 1915). Foi então construído um campo de aviação na várzea do Gravataí, com uma pista de 600 metros, dois hangares, escritório, oficinas, corpo da guarda e alojamentos. Dois aparelhos Breguet XIV foram trazidos a partir da Argentina. Mas a iniciativa acabaria interrompida em 1924 em consequência de um acidente fatal e da avaria numa das aeronaves.
Essa inatividade é notada por Paul Vachet quando do pouso dos aviões do primeiro Raid Latécoère (1925):
(...) esse ‘aeródromo’ que praticamente quase nunca recebia avião, havia sido convertido em campo de manobras pelo regimento de Infantaria local que cavava trincheiras com ardor (...)”
Paul Vachet, Avant les Jets, 1957
Nesse mesmo raid, o avião pilotado por Victor Hamm, ao aterrissar, caiu numa dessas trincheiras que havia sido preenchida às pressas e ficou com o trem de pouso completamente avariado, não podendo prosseguir o raid.
De Buenos Aires, Paul Vachet retorna mais tarde a Porto Alegre, para inspecionar os serviços do campo de pouso e a construção de um hangar em terreno conseguido do Estado na Invernada do Gravataí, junto à Granja Progresso”.
Na Esteira do Irma – Encontro de Pioneiros, Geraldo Tollens Linck, 1994
Não é surpreendente que a Brigada Militar tenha facilitado a exploração francesa. O comandante Emílio Massot, patrono da instituição que ocupou o posto por 20 anos, era filho de franceses imigrados para Pelotas e, antes de ser militar, ele havia se dedicado ao ensino, inclusive, de língua francesa. Já em 1916 o Coronel sonhara com uma escola de aviação no local...
Ali (em Porto Alegre) eu obtive também do Governador do Estado a concessão gratuita por 25 anos do único terreno nos arredores da cidade que não inundava quando das grandes enchentes do rio Gravataí, pois era ligeiramente sobrelevado”.
Paul Vachet, Avant les Jets, 1957
Em sua chegada a Porto Alegre, nossos dois camaradas (Santelli e Francès) procederam à mudança de avião prevista; isto é, eles pegaram o Laté 25 que nós acabávamos de deixar ali, mal regulado. Eles também se depararam com o Pampero (vento), mas, desta vez, de frente. Pouco tempo antes da escala de Montevidéu, as asas do aparelho se desprenderam de uma vez. Eles caíram como uma pedra. Drone, o mecânico de Montevidéu que foi ao local no mesmo dia, teve muita dificuldade em identificar os dois cadáveres, completamente esquartejados depois de uma queda de 2.000 metros. Os dois homens tiveram bastante tempo para ver a morte chegar”.
Marcel Moré, J’ai vécu l’epopée de l’Aéropostale, 1980
Tendo milhares de horas de voo na Europa, África e América do Sul, Hamm era um dos homens mais experimentados de La Ligne, e um dos primeiros a chegar no Brasil. Em Porto Alegre, proferira palestra sobre seu recente reide por inóspitas regiões da África, onde nativos ainda fugiam aos gritos pensando que o avião era um pássaro enorme”.
Na Esteira do Irma – Encontro de Pioneiros, Geraldo Tollens Linck, 1994
E como foi que Saint-Exupéry, Jean Mermoz, Hamm, Chénard, Beaumel, Chéminet puderam vir a misturar-se na multidão da Rua da Praia? A história é interessante e vale a pena ser lembrada, para os que já estão longe dos episódios passados.
Nilo Ruschel, A Rua da Praia, 2009
(...)
O campo de pouso aqui escolhido foi uma invernada da Brigada Militar, em Gravataí, ao lado da granja de arroz do major Alberto Bins. Uma pista de vinte metros de largura, um barracão como hangar, um chalé para acomodar Hamm, o chefe de campo, e um arremedo de orientação meteorológica, com balões e bandeirolas. Para os voos noturnos que Mermoz iniciava, era preciso postarem-se alguns automóveis ao longo da pista, com faróis acesos”.
Oh, Saint-Ex (Saint-Exupéry) adorava o céu, e Mermoz, as mulheres de Porto Alegre!
Mermoz, belo físico de homem, atlético, cabeça de artista, era o dono do céu, da terra e do mar”.
Nilo Ruschel, A Rua da Praia, 2009
Assim, convidados pelo pioneiro da aviação rio-grandense, Pepe Daudt [Alfredo Corrêa Daudt], os dois ases franceses [Saint-Exupéry e Mermoz] encantaram-se com uma churrascaria, bem à gaúcha, na chácara de dona Lina Daudt, na Pedra Redonda.
Jean Mermoz ia nadar, às vezes, com Carlos Maria Bins, nas águas do Gravataí; ou com Hamm e outros companheiros, tomava seu copo de ‘Hidrolitol’, ao lado da Colombo (...)”
Nilo Ruschel, A Rua da Praia, 2009
A parada em Pelotas se efetuou rapidamente, eu apertei a mão de Macaigne e decolamos para Porto Alegre, que ficava a uma horinha de voo. Nessa escala, eu troquei de avião e de piloto, me despedi de Saint-Exupéry, e continuei para Florianópolis e depois Rio de Janeiro com o caro Reine, tão bom piloto quanto camarada”.
Paul-Henri Dissac, Un Pionnier sans importance, 2012