Saint-Exupéry e o Campeche
Diário Catarinense – 27 de maio de 2006. Caderno Cultura
POR JOÃO CARLOS MOSIMANN *
Mito ou realidade, passagem do escritor e herói da aviação francês pela Ilha de Santa Catarina, nos anos 1930, carece de comprovação histórica
O fascinante mundo dos aviadores franceses, heróis que enfrentavam o firmamento com seus Breguet-14 e Laté-26, exige desapego às tradições orais e pesquisa séria para ser desvendado. Os registros da Latécoère e da Aeropostale, assim como as obras essenciais sobre o tema, permitem trilhar um caminho de elucidação. Relatos dos pioneiros que atuaram na chamada Linha, como os de Delaunay, Mermoz, Guillaumet, Moré, Roig, Vanier e outros, sinalizam alguma luz. Saint-Exupéry ingressara na Latécoère em outubro de 1926, fixando-se em Toulouse como piloto de provas e da rota do Norte da África, para em seguida chefiar o posto de Cap Juby, no Marrocos, permanecendo dois anos no Saara.
Em março de 1929 retorna à França, levando consigo os manuscritos de Correio Sul, com o qual estréia no campo literário. Um curso de navegação aérea ocupa-o até setembro, quando é enviado à Argentina para o posto de diretor de operações da Aeroposta Argentina. Foi recepcionado no cais de Buenos Aires no dia 12 de outubro por Mermoz, Guillaumet e Reine, companheiros que vinham atuando na Linha Rio–Buenos Aires desde 1927. Estes, sim, habitués do campo de aviação do Campeche. A missão de implantar nova linha para a Patagônia, com meia dúzia de escalas, permitiu torná-la operacional em fevereiro de 1930. Sua atividade consistia em inspecionar aqueles postos e supervisionar os pilotos nos 2,6 mil quilômetros da rota, mas, “apesar de sobrecarregado de trabalho, sempre encontrava algum tempo para trabalhar seu novo livro”, conforme Paul Webster, seu biógrafo.