Jornal ND • Sábado e domingo, 14 e 15 de outubro de 2023 • Pág. 3
Novas perspectivas pela recuperação do casarão histórico da Aeropostale
Sobrinhas-netas do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry estiveram em Florianópolis e aprovaram projeto que pretende transformar a residência do Campeche num centro de memória e espaço de uso comunitário
Enquanto os aviões decolavam do Floripa Airport, perto dali o antigo casarão do bairro Campeche, que abrigou os pilotos da Aeropostale e Latécoère nas décadas de 1920 e 1930, recebia duas sobrinhas-netas de Antoine de Saint-Exupéry, o escritor que cruzou os céus da América do Sul e entrou para a história da aviação e da literatura Em sua primeira viagem ao Brasil, Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophia de Giraud d’Agay Halleux conheceram sexta-feira as instalações do imóvel onde os aviadores cozinhavam e descansavam em suas escalas, na rota que vinha da Patagônia e terminava na França.
Na visita, intermediada pela professora e tradutora Mônica Cristina Corrêa, as francesas também tomaram conhecimento do projeto que pretende transformar o casarão num centro de memória e espaço de uso comunitário pelos moradores e artistas do Campeche Elaborado em 2008, ele continua na gaveta porque o abandono do imóvel Sophia de Giraud d’Agay Halleux e Roseline de Giraud d’Agay Sartre estimulou famílias a ocupá-lo e depois reivindicar o direito sobre ele a título de usucapião. Acompanho esse processo há quatro gestões municipais e posso dizer que falta vontade política para solucionar o caso, diz Mônica, que preside a Associação Memória da Aeropostale no Brasil.
As expectativas agora se voltam para a nova administração municipal e para a parceria realizada com o FloripAmanhã, associação que luta para destravar questões que impedem o avanço de projetos Mônica Corrêa afirma que a comunidade do Campeche foi consultada e aprova a reforma, porque o casarão é uma das primeiras construções do bairro e tem relação com a memória dos moradores As sobrinhas-netas de Saint-Exupéry consideraram magnífico o projeto, feito pelo escritório da arquiteta Lilian Mendonça.
A presidente da Fundação Franklin Cascaes, Roseli Pereira, falou da importância do edifício, porque era ali que os aviadores estrangeiros se reuniam com os nativos, a maioria deles pescadores. Quando for resolvido o imbróglio jurídico que inviabiliza qualquer intervenção, a ideia é recuperar e revitalizar este espaço, que faz parte da memória da cidade.
Para elaborar o projeto, a arquiteta Lilian Mendonça fez um estudo das formas, materiais e elementos usados na construção Além da recuperação, a intenção é integrar o espaço com o entorno, em especial o antigo campo de pouso, hoje uma área sem uso no bairro.
Visitas a Biguaçu, Rio de Janeiro, Petrópolis e Curitiba
Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophia de Giraud d’Agay Halleux gostaram muito do Brasil e, na estada na Grande Florianópolis, visitaram a escola Professor Alexandre Sérgio Godinho, em Biguaçu, onde é realizado um projeto de formação de professores em parceria com a tradutora Mônica Corrêa. As sobrinhas-netas de Saint- -Exupéry também passaram pelo Rio de Janeiro, onde o shopping RioSul celebra os 80 anos da obra mais icônica do autor francês com a exposição “Pegadas do Pequeno Príncipe”. Foram ainda a Petrópolis (RJ), cidade que também serviu de abrigo para os pilotos da Latécoère e que mantém a Casa do Pequeno Príncipe, e a Curitiba, onde funciona o Hospital Pequeno Príncipe, o maior do Brasil na área da pediatria.
A professora Mônica Cristina Corrêa defende o projeto de recuperação do casarão da Aéropostale alegando que, sendo uma cidade que produz e exporta tecnologia, Florianópolis não pode ignorar o avanço que a aviação representou para o mundo. Todas as suas pesquisas indicam que o autor de “O Pequeno Príncipe” (e de “Voo Noturno”, “Terra dos Homens”, “Piloto de Guerra”, “Carta a um Refém”, entre outros) foi um dos aviadores franceses que pousaram no Campeche a partir de 1929. E foi voando que ele morreu: durante a segunda Guerra Mundial, em 31 de julho de 1944, o avião pilotado por Antoine de Saint-Exupéry desapareceu no mar Mediterrâneo.