Obras

A dançarina Manon e outros textos inéditos (2007)

Nos anos 1920, Antoine de Saint-Exupéry redigiu um texto que considerava suficientemente acabado para mostrar a suas amigas Louise de Vilmorin e Renée de Saussine. Principalmente, oferece à leitura de Jean Prévost, crítico literário na Nouvelle RevueFrançaise e secretário de redação na revista Le Navire d’argent, com a esperança de que seja publicado.

Saint-Exupéry trabalhava, à época, como representante dos Caminhões Saurer e estava muito descontente com a vida que levava; o trabalho literário o reconfortava. Sua correspondência faz supor que tenha começado várias narrativas e novelas, abandonadas provavelmente ao longo da estrada. Quando de seus deslocamentos na província, gostava de instalar-se nos cafés para escrever à mãe e aos amigos. Numa carta a Renée de Saussine, relata sua conversa com uma jovem que se prostituía para sustentar o filho. A história da dançarina Manon é justamente a de uma moça da vida, que está melancólica.

Saint-Exupéry mostra seus textos “A dançarina Manon” e “Evasão de Jacques Bernis” a Jacques Rivière, diretor da Nouvelle RevueFrançaise, que os recomenda a Gaston Gallimard. Este último propõe ao jovem autor publicar uma antologia de quatro novelas. O projeto fica sem continuidade, assim como o da revista Europe, que havia, no entanto, anunciado a publicação de um texto num número seguinte. Finalmente, em 1929, Gaston Gallimard propõe ao jovem autor um contrato por seu livro Correio sul, e “A dançarina Manon” fica esquecido, sendo publicado somente em 2007, num conjunto de quatro volumes (com outros textos inéditos).

Resumo

Manon é uma prostituta, um brinquedo de que os homens se servem para passar o tempo. A moça está melancólica. Sonha com um verdadeiro grande amor, um homem que a respeite e não lhe peça nada, que a ame pelo que é.

Ele tem quarenta anos. A calma dos náufragos. Apega-se ao trabalho não por prazer, mas pela proteção que este lhe oferece. Encontra Manon numa ponte. Sente-se bem ao lado dela, como um caçador que acaricia seu cão. Jantam juntos, depois ele a convida para ir a sua casa. E lhe diz: “meu amor”, e essas palavras perturbam-na. Ela não acredita que as mereça. É uma dançarina, decerto, mas não conseguiria viver unicamente de dança. Ele parece perdido. A presença daquela mulher lhe faz bem. Ela estreita-se contra seu ombro.

No dia seguinte, cada um retoma sua vida. Manon volta ao bar, aos clientes. Acaba a noite num café com Suzanne. De sua casa, olha Paris pela janela. Tudo está calmo, em paz. Ela está quase feliz.

No salão de um restaurante, pessoas a forçam a beber, machucam-na. Ela foge.

Ela amou um homem, escondeu-lhe a natureza de seu trabalho. Um dia, quando estavam juntos, Manon cruza com antigos clientes. Eles lhe falam com o tom usado para referir-se às mulheres fáceis. O homem compreendeu, deixou-a. Ela tentou revê-lo, explicar-lhe. Ele a amava, agora a despreza. De repente, ela se vê sob as rodas de um caminhão. Suicídio? “Deixem-me morrer, não me toquem” – murmura quando a levam ao hospital.

O padre lhe pede que se arrependa. Mas de quê? A vida é o que é, e é preciso viver. Uma enfermeira está sempre ali, disponível, pronta a ajudar. O que as separa? – pergunta-se Manon. Essa mulher “pesa sobre uma terra firme”; o mundo de Manon é “irreal”. Manon fica manca.

Citações A Dançarina Manon

“Ele sente aquele enternecimento enganador que exalta as moças à entrada das boates. Entre duas bebidas, entre dois dançarinos egoístas e a fumaça de seus cigarros, elas voltam um segundo sob as estrelas e tomam consciência de sua desgraça e se creem purificadas por estarem tão tristes…”

“A vida é banal, mas nas confidências, temos o passado que merecemos, temos uma lenda…”

“Não seacorda nova, toda a vida passada cola em si como nos lençóis úmidos”.

“Não se pode ser uma mulher quando o homem é o ganha-pão do dia seguinte”.

“Esgotam-se nossas forças num trabalho sem sonho, um lençol branco, tão branco, nu como uma parede”.

Bibliographie

Antoine de Saint-Exupéry : Manon, danseuse et autres textes inédits, coffret en 4 volumes, Gallimard, France, 2007

Saint-Exupéry : Œuvres complètes I, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, 1994