Obras

O Aviador (1926)

O primeiro texto publicado de Antoine de Saint-Exupéry é uma novela intitulada “O aviador”. Saiu em 1º de abril de 1926 na revista Le Navire d’Argent, dirigida por AdrienneMonnier. Por iniciativa dessa publicação, Jean Prévost, secretário de redação da revista, é seduzido ela narrativa dos voos de Saint-Exupéry, que ele encontrara no salão literário de Yvonne de Lestrange.

Le Navire d’argent é uma revista mensal de literatura e de cultura geral, impressa pela Maison des Amis des Livres, livraria aberta em 1915 por AdrienneMonnier (1892-1955). O primeiro número da revista, que terá 12, surgiu em 1º de junho de 1925. Assim como sua livraria, a revista homenageia escritores franceses e estrangeiros de todos os horizontes. O texto de Saint-Exupéry é publicado no no. 11, penúltima edição, ao lado de textos de R. Fernandez, MarcelleAuclair, BlaiseCendrars e também traduções de Rainer Maria Rilke e de Ramon Gomez de laSerna.

Quando escreveu a novela, Saint-Exupéry tinha brevês de piloto civil e militar obtidos durante seu serviço militar (1921-1923). No entanto, possuído poucas horas de voo, ele não trabalhava ainda na aviação. Enquanto procurava um emprego que lhe permitisse voar, redigiu um texto: “A evasão de Jacques Bernis”. A redação da revistaNavire d’Argent publicou um excerto de dez páginas divididas em oito pequenos capítulos, intitulado, na ocasião, “O aviador”.

Através das impressões de seu personagem Bernis e de seu aluno, Pichon, pela narrativa do acidente do piloto Mortier e finalmente o do próprio Bernis, o leitor toma conhecimento do mundo maravilhoso dos aviadores. Saint-Exupéry introduz alguns dos temas que serão recorrentes em sua obra: o avião como instrumento de uma descoberta de si, o desejo de romper com a vida monótona dos muito ocupados com seus interesses, a camaradagem, a imagem da terra tão diferente vista do alto, a morte reduzida à insignificância de um fato qualquer.

Resumo

O piloto prepara-se para decolar. Ajusta as roupas, fixa o paraquedas, instala-se na carlinga. O motor já está funcionando, ele pode decolar. Puxa o manche. O avião dá seus primeiros trancos. O ar, “primeiro impalpável, depois fluido, e finalmente sólido”, permite ao piloto apoiar-se para subir. Voar é ir a outro mundo. As casas que começam por assemelhar-se às de um brinquedo infantil, tornam-se cada vez menores e desaparecem. A 3.000m, só estão o sol, o céu e, embaixo; uma terra rígida, imóvel.

Sobrevoando o mar,  o motor dá um tranco de repente. Um instante de pânico, e o piloto põem-se alerta aos ruídos do aparelho. Volta a sobrevoar a terra. Desce a fim de melhor “saboreá-la”. A aterrissagem é decepcionante: trocam-se as excitações do voo por umaprovíncia quieta e sufocante.

O piloto desce de sua carlinga. Correm até ele para cumprimentá-lo. Mas ele não é senão um homem comum, Jacques Bernis. Cercado de amigos convencionais, em busca de amor, Bernis vaga, desamparado, na cidade. Entra numa danceteria e subitamente percebe que o voo fez dele um homem diferente, forte. Gosta dos momentos passados em companhia de seus colegas aviadores, que contam suas peripécias.

Bernis voa então na companhia de um aluno. Ele lhe explica os “princípios elementares”, em caso de algum incidente: manter a calma, cortar o motor, retirar os óculos, agarrar-se… O jovem piloto Mortier está perdido no nevoeiro. Voa baixo tentando localizar-se. Chega, enfim, mas precisa aterrissar na neblina, não vê o obstáculo. Ferido, Mortier agoniza cercado dos que vieram socorrê-lo. “É um acidente de trabalho” – diz Bernis ao aluno piloto.

Durante o voo, Bernis se diverte fazendo piruetas ou acrobacias com o avião. Uma asa se quebra. O avião mergulha em espiral. A terra gira como um carrossel e depois rebenta contra aquele que morrerá, como o mar contra o mergulhador.

Citações

“É verdadeiramente uma partida; desde então, somos de outro mundo”.

“A terra lá do alto parecia nua e morta, o avião desce: ela se veste”.

“(…) morremos sem fazer alarde. O aluno Pichoncompreendeu uma coisa: morre-se sem fazer alarde. Ele olha o mundo quadriculado à maneira de uma Europa de atlas. As terras amarelas de trigo ou vermelhas de trevo, que são o orgulho dos homens e de sua preocupação, justapõem-se, hostis. Dez séculos de lutas, invejas, processos estabilizaram cada contorno: a felicidade dos homens está bem demarcada”.

“Contra o piloto assassinado, como o mar contra o mergulhador, jorra a terra”.

Bibliografia

Antoine de Saint-Exupéry : L’Aviateur, Le Navire d’argent, France, 1926
A revista Le Navire d’argent está disponível em : https://gallica.bnf.fr/