Obras

Terra dos homens (1939)

A vida de piloto e as reportagens que fez para diferentes jornais forneceram a Saint-Exupéry a matéria de seu terceiro livro, Terra dos homens. Publicado em fevereiro de 1939, o livro conquistou o Grande Prêmio do Romance da Academia Francesa, ainda que não seja um romance. Nos EUA, Wind, Sand and Starsfoisaudadopela American Booksellers Association.

Obra autobiográfica, Terra dos homens relata as façanhas dos pilotos da Aéropostale e alguns outros episódios de sua vida de aviador, entre 1926 e 1935. Saint-Exupéry conta seu começo na Latécoère, sediada em Toulouse, onde encontrou a família de pilotos, entre os quais Jean Mermoz e Henri Guillaumet. No comando de seu avião, admira e medita sobre nosso planeta visto do céu. Garante o transporte do correio entre Toulouse e Dacar e serve de elo entre os homens. Prossegue sua narrativa com as aventuras dos pilotos na América do Sul, os quais trabalham doravante para a CompagnieGénéraleAéropostale, assim rebatizada desde que Marcel Bouilloux-Lafont, um investidor francês instalado na Argentina, a comprou.

Saint-Exupéry começou em 1938a redação desse terceiro livro, cuja construção lhe fora inspirada por André Guide: “Por que você não escreve alguma coisa que não seja uma narrativa contínua, mas uma espécie de… (…), enfim, como um buquê, um arranjo, sem levar em conta lugares e tempo, o agrupamento em diversos capítulos de sensações, emoções, reflexões do aviador (…)”.

Saint-Exupéry compila uma série de artigos; o Voo interrompido, Prisão de areia, publicados no Intransigeant em 1936. Os detalhes de seu acidente na Líbia vão alimentar o capítulo central do livro “No meio do deserto”. De um capítulo a outro, ele desdobra seu pensamento humanista e visionário em linguagem universal. Ilustra seu ponto de vista sobre o mundo e alimenta sua reflexão sobre numerosos temas: a morte, a amizade, o heroísmo, a busca de sentido…

Em dezembro de 1938, na gráfica de LagnySur-Marne, Saint-Exupéry muda nas provas o título “Étoile par grandvent” para Terra dos homens, conforme sugestão de seu primo André de Fonscolombe. O livro sai em fevereiro de 1939 pela Editora Gallimard. Nos EUA, é publicado em junho de 1939.

Resumo

“O homem se descobre quando se mede com o obstáculo”. Em torno de acontecimentos cotidianos ou heroicos, Saint-Exupéry faz emergir uma concepção global sobre a vocação do homem no mundo.

O capítulo I, “A Linha”, homenageia os pioneiros da aviação que souberam, às vezes arriscando a própria vida, libertar o homem dos obstáculos geográficos, físicos ou metereológicos, abrindo novas rotas aéreas.

No capítulo II, “Os camaradas corajosos”, são Mermoz e Guillaumet, que conseguem façanhas em condições climáticas extremas. Mermoz enfrenta várias vezes a morte para encontrar o melhor itinerário aéreo. Guillaumet cai nos Andes, em pleno inverno austral. O perigo cria elos privilegiados entre os que o enfrentam juntos.

O capítulo III, “O avião”, é uma meditação sobre o progresso tecnológico. O avião não é um fim, mas um instrumento. O progresso técnico pode nos fazer esquecer que nossas descobertas têm por única finalidade “servir os homens”. Em sua máquina aperfeiçoada, o piloto é confrontado com os mesmos elementos fundamentais: a água, a terra e o ar.

Citações

“A terra nos ensina mais do que os livros”.

“O homem se descobre quando se mede com o obstáculo”.

“O que outros conseguiram, podemos sempre conseguir”.

“Mas no coração do perigo, conservam-se as preocupações de homem”.

“É preciso que nos falem uma linguagem simples para se fazerem entender”.

“Não se inventam velhos camaradas”.

“É vão, se plantarmos um carvalho, esperarlogo nosabrigar sob sua folhagem”.

“Trabalhando unicamente pelos bens materiais, construímos nossa própria prisão”.

“A grandeza de um ofício é, talvez, antes de tudo, a de unir os homens”.

“O que nos salva é dar um passo. Outro passo. Sempre o mesmo passo que recomeça. »

« Ser homem é precisamente ser responsável”.

“A verdade, para um, foi a de construir; e é, para outro, a de habitar”.

“Parece que a perfeição se atinge não quando nada mais há a acrescentar, mas quando nada mais há a retirar”.

“Com o avião, aprendemos a linha reta”.

“Os homens sós constroem sua solidão”.

“Não é a distância que mede o afastamento”.

“O império do homem é interior”.

“O homem é alvo na terra para atiradores secretos”.

“O escravo faz seu orgulho da brasa de seu senhor”.

“Não é do perigo que gosto. Sei do que gosto. É da vida”.

“Água, não tens nem gosto, nem cor, nem aroma, não  conseguimos definir-te, nós te saboreamos sem conhecer. Não és necessária à vida, és a vida”.

“O essencial não sabemos prever”.

“Amar não é olhar um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção”.

“A verdade para um homem é o que faz dele um homem”.

“Aquele que morre pelo progresso do conhecimento ou pela cura das doenças, está a serviço da vida ao mesmo tempo que morre”.

“Por que odiarmo-nos? Somos solidários, levados no mesmo planeta, tripulação de um mesmo navio”.

“Somente o Espírito, se soprar o barro, pode criar o homem”.

Bibliografia

Antoine de Saint-Exupéry : Terre des hommes, Gallimard, France, 1939

Lucien Adjadji : La Terre et les Hommes, choix des textes et analyse, Didier, 1975

Marc Bell : Gabriel Roy and Antoine de Saint-Exupéry : Terre des Hommes – Self and Non Self, Peter Lang Publishing, 1991

Rainer Biemel :  A propos de Terre des Hommes, dans Icare n° 108, 1984

Françoise Brin : Etude sur Terre des Hommes, Ellipses, 2000
Françoise Gerbod : Récit d’aventures ou méditation morale : Terre des hommes, dans Roman 20-50 n° 30

Monique Gosselin-Noat : La terre et le moi dans Pilote de guerre et Terre des hommes, dans Roman 20-50 n° 34

Juliette Gros : Accomplissement et quête dans Terre des Hommes, thèse, Université Lyon 3, 1999

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Jean-Luc Maxence : L’appel du désert. Antoine de Saint-Exupéry, Presses de la Renaissance, 2002

Georges Pelissier, Les cinq visages de Saint Exupéry, Flammarion, Paris, 1951

Paul Reynard :  Saint Exupéry et Jean Renoir: Terre des hommes à l’écran ? dans Roman-20-50 n° 29, juin 2000

Robert de Traz : Terre des Hommes, dans Icare n° 108, 1984