Jornal ND • Quinta-feira, 12 de outubro de 2023 • Pág. 6
Sobrinhas-netas de Exupéry discutem com município o destino do Casarão Aéropostale
Em reunião ontem, descendentes do aviador e autor de “O Pequeno Príncipe” tomaram ciência da situação sobre o móvel do Campeche
Valeska Loureiro
Em meio a um imbróglio judicial, o projeto de restauração do Casarão Aeropostale, localizado no Campeche, Sul da Ilha, volta a ser discutido entre a administração municipal e a sociedade. Em encontro ontem na prefeitura, com o FloripAmanhã, estiveram duas visitantes ilustres da França, Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophie de Giraud d’Agay Halleux, sobrinhas-netas do escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry.
As descendentes de Exupéry estão no Brasil para comemorações em torno dos 80 anos da obra “O Pequeno Príncipe”. Elas são netas de Gabrielle de Saint- -Exupéry, única irmã do escritor que teve fi lhos. Na Capital, além de percorrer locais importantes da passagem do autor, tiveram a missão de encorajar a restauração do Casarão Aeropostale como um memorial, um espaço histórico e de exposição permanente. Estiveram na Escola Alexandre Sérgio Godinho, em Biguaçu, para visitar o projeto de literatura infantil em torno do clássico, desenvolvido com curadoria da pesquisadora e presidente da Amab (Associação em Memória da Aeropostale no Brasil), Mônica Cristina Corrêa. Elas visitam amanhã o casarão, encerrando a passagem pela Ilha.
HÁ ANOS NO PAPEL
Segundo Mônica, o projeto se arrasta há pelo menos quatro gestões municipais, sem sair do papel. A esperança é que, de volta à tona e com apoio da prefeitura, fi nalmente saia do papel. “Achei oportuno trazê-las e mostrar a situação, já que o pai delas esteve aqui três vezes. Ele está com 98 anos, não pôde vir ao Brasil”, conta Mônica. Grande defensora da importância do casarão para o Campeche, ela explica como está a situação atual da estrutura. “A prefeitura nos promete encaminhar as tratativas jurídicas para que ocorra o restauro do espaço e vire comunitário, de memória. E o que fi zemos aqui hoje é debater quais são as estratégias para que saia do imbróglio judicial”, relata.
“O memorial resgata a história dos pilotos franceses e dos pescadores, e a sociedade precisa conhecer sua história, de importância singular, para preservá-la”, defende o vice- -presidente da FloripAmanhã, Salomão Mattos Sobrinho.
Histórico e o imbróglio judicial
O casarão com aparência de abandono na Pequeno Príncipe é a única construção que resgata a memória do serviço aeropostal francês no Brasil. Nos anos 1940, passou à União. Em 1945, virou escola e foi ocupado pela professora Ivone da Silva. Em 1957, foi habitado pela professora Carolina Inácia de Jesus Heerdt – morta nos anos 1970 – e o marido José – morto em 2008. Descendentes deles continuam lá. Em novembro de 1989, a União concedeu o uso gratuito à cidade área de 15.022 m2, com o casarão, tombado patrimônio histórico pelo município em 2014.
Quem se apossou reivindica direito adquirido
A assessora especial de projetos, Zena Becker, explica que não tem como a prefeitura tomar decisão sem parecer final de um juiz. “Na verdade, as pessoas se apossaram de um bem e como ficaram muitos anos acabaram tendo o direito adquirido. Judicialmente, existem complicações”, explica.
“É claro que queremos resolver. Eu mesma acompanho a questão desde 2013. Quando fui secretária de Turismo, tínhamos empresários dispostos a bancar o museu, só que não conseguimos fazer com família ocupando a metade do imóvel nem comprar um terreno nosso”, acrescenta Zena. complicações”, explica. “É claro que queremos resolver. Eu mesma acompanho a questão desde 2013. Quando fui secretária de Turismo, tínhamos empresários dispostos a bancar o museu, só que não conseguimos fazer com família ocupando a metade do imóvel nem comprar um terreno nosso”, acrescenta Zena.