O BATISMO DO AR (1912)
Antoine de Saint-Exupéry voa pela primeira vez em julho de 1912 num Berthaud-Wroblewski, pilotado por Gabriel Wroblewski. Apesar da proibição de sua mãe, Antoie recebe seu batismo do ar em Ambérieu, no campo de aviação de Bellièvre, pertinho de Saint-Maurice-de –Rémens, onde passa suas férias.
Antoine estava aproveitnado as férias em Saint-Marice para pedalar de bicicleta até Ambérieu, situada a alguns quilômetros do castelo. Ali, industriais lioneses instalaram um aeródromo para experimentar modelos de aviões e sucederam-se as escolas de pilotagem. O senhor Berthaud, industrial de Villeurbann, financia a construção de uma oficina para fazer modelos de aviões, segundo projetos dos irmãos Pierre e Gabriel Wroblewski.
Antoine se torna um frequentador dos hangares, muito interessado nos motores e naquelas maravilhosas máquinas voadoras. Sua mãe tendo visitado o local, Antoine diz ter seu acordo para uma volta de avião. Gabriel Wroblewski o leva num aparelho de sua fabricação, o Berthaud-Wroblewski e Antoine de Saint-Exupéry experimenta pela primeira vez o prazer do voo. Fica estupefato. Fala disso a Odette de Sinety, porque quem está apaixonado, e escreve vários poemas elogiando a aviação.
BREVÊ EM STRASBOURG (1921)
Quando em 1921, Antoine de Saint-Exupéry precisa efetuar seu serviço militar, ele escolhe uma unidade de aviação. Em 9 de abril de 1921, é incorporado ao 2º Regimento de Strasbourg, na Seção dos Operários da Aviação. Apoiado por certos oficiais, ele é autorizado e tomar aulas particulares de pilotagem a fim de preparar seu brevê civil.
O ao regimento de Strabourg fica a uns vinte quilômetros da cidade, em Neuhof. Antoine encontrou um quarto no centro da cidade e fazia todo dia o trajeto até a caserna. A vida de caserna era bastante monótona, ele jogava futebol com Jean Escot, aprendia a saudar e dava aulas sobre motor à explosão e aerodinâmica aos outros recrutas. Ele ainda não era aluno de artilharia, mas organizou-se para subir no Spad Herbemont. No terreno de aviação de Neuhof, conheceu Robert Aéby, piloto da companhia civil Transaérea do Leste, que usava o terreno militar para voos de lazer.
Apoiando pelo Comandante e o capitão Billy e tendo obtido o acordo de sua mãe para o financiamento das aulas, ele pode começar seu aprendizado de aviador para preparar o brevê de piloto civil com Aéby. Voa pela primeira vez em duplo comando sábado dia 18 de junho de 1921, num Farmann F-40. E continua suas aulas num Spowith. Sábado dia 9 de julho de 1921, realiza seu primeiro voo solo. Depois de 25 horas de voo, obtém o brevê de piloto civil.
BREVÊ MILITAR NO MARROCOS (1921)
Tendo obtido o brevê civil, Antoine de Saint-Exupéry pôde receber uma formação de piloto militar. Esta lhe foi dispensada no 37º regimento de aviação no Marrocos, nos arredores de Casablanca, para onde foi transferido em 2 de agosto de 1921.
Todas as manhãs, ele efetua voos de curta duração a bordo de um Breguet 14. Vai a Rabat para passar exames de cultura geral do concurso de aluno oficial da reserva (E.O.R.). Passa seus finais de semana com Marc Sabran, um colega da escola Villa Saint-Jean, que o leva ao capitão Priou. No final do verão, ele treina num percurso triangular de 250 km entre Casablanca, Berrechid e Rabat. Em 23 de dezembro de 1921, obtém o brevê de piloto militar (N° 19398).
“Mamãezinha, se você me visse esta manhã, embolado como um esquimó e pensado como um paquiderme, você riria… Era uma roupa que só abre nos olhos, tipo capuz e ainda os olhos com óculos…
Um grande lenço em volta do pescoço (lenço do tio), seu jérsei branco e sobretudo uma combinação forrada. Luvas enormes e dois pares de meia nos meus sapatos enormes”. Casablanca (1921), Cartas a sua mãe.
BREVÊ DE OBSERVADOR (1922)
De volta ao Marrocos, onde obteve o brevê de piloto militar, Antoine de Saint-Exupéry foi enviadoa Istres (Bouches-du-Rhône), onde treinou num velho avião Caudron G3. Em 5 de fevereiro de 1922, foi nomeado caporal.
Em 3 de abril, foi admitido como aluno-oficial da reserva (E.O.R.) da aeronáutica, onde obteve o 67º lugar entre 68. Foi enviado ao centro de instrução de Avord, acolhido por Jean Escot. Os cursos alternavam teoria e trabalhos práticos de voo como observador. Ele era da equipe do sargento Reinequi, pilotou Breguets 14 ou Salmon, sentado no banco de trás para assistir à instrução. Antoine tem uma reputação de incorrigível distraído ora esquecia os óculos de voo, ora o lápis para anotações, soltava “bombas” em todo lugar, exceto na zona designada e nem sempre respeitava as ordens de voo. Mas, apesar dessas desventuras, teve a satisfação de simpatizado com Marcel Reine, que ele reencontrará mais tarde na Aéropostale.
De Avord, ele é mandado a Versalhes a fim de estudar as diferentes ligações da aeronáutica com as outras armas. Enquanto E.O.R piloto, é autorizado a voar na base de Villacoublay (Yvelines), onde vai de moto com Jean Escot antes das aulas. Em 10 de outubro de 1922, é promovido a tenente da reserva. Em 4 de dezembro de 1922, é nomeado observador de aviação.
O PRIMEIRO ACIDENTE GRAVE (BOURGET – 1923)
No final do estágio, Antoine de Saint-Exupéry está bem colocado para escolher seu posto no 34º regimento de aviação no Bourget. Ele voa num Caudron C59 e num Nieuport 29, “o avião mais rápido dos tempos modernos”. Com os veteranos do Bossuet, frequenta a família Vilmorin e corteja Louise.
No dia 1º de maio de 1923, embarca um colega, o tenente Richaux, num voo de lazer num Hanriot HD-14 para o qual ele não tem licença. Na decolagem, o avião parte em espiral e se arrebenta no solo. O passageiro tem uma fratura craniana e Saint-Exupéry, numerosas contusões. A investigação estabelece que o acidente foi devido a erros de pilotagem. Em sua saída o hospital, ele é limitado ao solo. Dia 5 de junho de 1923, é liberado do serviço militar e se retira no castelo de Saint-Maurice. Pensa em entrar na Força Aérea, mas é demovido pela família de sua noiva Louise de Vilmorin.
A COMPANHIA AÉREA FRANCESA (1924)
Sob a recomendação de um amigo da família, o general Barès, Antoine de Saint-Exupéry é contratado pela Companhia Aérea Francesa (C.A.F) em 1924. A companhia propõe batismos do ar ou voltas de meia hora sobre Paris. Ele voa pouco e é mal remunerado.
Liberado de seu serviço militar em junho de 1923, prometeu à sua noiva Louise de Vilmorin renunciar à carreira de aviador, depois de seu acidente no Bourget. Encontrou emprego de controlador de fabricação nas Tuilleries de Boiron, rua Faubourg Saint-Honoré, em Paris. Esse trabalho de escritório não lhe convinha e ele o deixou em um ano. Em março de 1924, Antoine é contratado como representante dos caminhões Saurer para as regiões Creuse, o Cher e Allier.
Quando Louise de Vilmorin rompe o noivado, Antoine volta à aviação. Domingo, voa para Orly. Pretende partir para a China, onde as autoridades contratam instrutores de voo. É recrutado como monitor na C.A.F e efetua voos de lazer no Bourget e em Villacoublay. Aproveita para batizar seus amigos, como Henry de Ségogne.
A COMPANHIA LATÉCOÈRE (1926-1927)
Em 1926, Antoine de Saint-Exupéry é contratado por Didier Daurat em Toulouse, Montaudran. Naquele dia, entrou para a Compagnie Générale d’Entreprises Aéronautiques (C.G.E.A), dirigida por Pierre-Georges Latécoère, Didier Daurat e Beppo de Maissimi. Enfim, ele se junta à família dos pilotos, entre os quais estavam Jean Mermoz e Henri Guillaumet!
Construtor de aviões, Pierre-Georges Latécoère criou, em 1918, uma ligação aérea para transportar o correio de Toulouse, onde se ficavam suas fábricas, até Rabat. Beppo de Maissimi era diretor geral da sociedade. A linha é prolongada até Dacar em 1925. Durante o verão de 1926, Antoine de Saint-Exupéry, que procurava trabalho, pede ao abade Sudour, seu professor da escola Bossuet, que interceda junto a seu amigo Beppo de Massimi. Os dois homens haviam se conhecido nas trincheiras, onde seus gostos literários os aproximaram. Beppo de Massimi encontra Antoine de Saint-Exupéry em Paris antes de falar de sua candidatura a Didier Daurat, na sede de Toulouse.
Chefe da exploração, Didier Daurat tinha sob suas ordens uns sessenta pilotos. Recebe Saint-Exupéry em outubro de 1926. O candidato não lhe inspira confiança. Ele tem poucas horas de voo e, olhando suas mãos, Didier Daurat tem a impressão de que elas não estão habituadas à graxa. No entanto, ele precisa de pilotos: dos 126 contratados, 55 haviam deixado a companhia e 7 morreram.
Antoine de Saint-Exupéry, como todo recruta, começa na oficina. Didier Daurat fica gratamente surpreso pela aplicação de seu contratado, que não tem repulsa pelo trabalho de mecânico. Depois de algumas semanas, tendo passado nos testes de pilotagem, efetua curtos trajetos. Contratado em 1925, Henri Guillaumet é encarregado de prepará-lo. Ele dá a Saint-Exupéry todas as explicações necessárias e o leva em seu Breguet 14 para referenciar o trajeto, pois navegação aérea era feita por visão. Em dezembro de 1926, Saint-Exupéry efetua seus primeiros correios na linha Toulouse-Casablanca, depois, até Dacar.
A AÉROPOSTALE (1927-1932)
Em abril de 1927, Pierre-Georges Latécoére vende 95% das ações de sua companhia a Marcel Bouilloux-Lafont, investidor francês radicado na Argentina. A C.G.E.A é batizada de Companhia Geral Aéropostale.
Chefe de escala em Cabo Juby (1927-1928)
Depois de um ano no serviço do correio, Antoine de Saint-Exupéry é nomeado chefe de escala em Cabo Juby (Trafaya), uma etapa estratégica entre Casablanca e Dacar. Em 19 de outubro de 1927, ele aterrissa em Cabo Juby na zona sul do Protetorado espanhol do Marrocos. Se ele não está mais encarregado do correio, deve, por outro lado, socorrer os pilotos perdidos no deserto e negociar com os chefes berberes a liberação dos que são feitos reféns. Ele faz aterrissagens perigosas no meio das dunas para resgatar camaradas. Sofre tiros das tribos rebeldes que sobrevoa em busca de um avião perdido. Salva das mãos de mouros vários aviadores, entre os quais: Louis Vidal, Riné Riguelle, Marcel Reine, o engenheiro Serres e o espanhol Vallejo. Por essas ações, é nomeado Cavaleiro da Legião de Honra pela Aeronáutica civil, em 7 de abril de 1920.
Foi em Cabo Juby que ele compôs seu primeiro romance: Correio sul. De volta à França, a companhia o inscreve num curso especial da Escola Naval em Brest para formá-lo em voos noturnos. No fim de sua formação, ele retoma os voos no trajeto Toulouse-Casablanca, a bordo dos novos Laté 25 e 26.
Aeroposta Argentina (1929-1931)
Nomeado chefe da exploração da Aeroposta Argentina, Antoine de Saint-Exupéry toma suas funções em 12 de outubro de 1929 em Buenos Aires, onde reencontra seus amigos Marcel Reine, Henri Guillaumet e Jean Mermoz. Tem por missão assegurar o bom funcionamento das linhas já existentes até Santigo do Chile, Assunção e Rio de Janeiro, gerenciar os funcionários e o equipamento. O considerável trabalho administrativo não o impede de voar muito e longe, frequentemente à noite, e abrir novas linhas.
Ele vai à Patagônia e à Terra do Fogo para encontrar os melhores trajetos e as pistas de aterrissagem mais seguras em vista da abertura das novas linhas. Em 20 de marco de 1930, cobre 2.400 km que separam Buenos Aires de Rio Gallegos em 12 horas, o que é um recorde mundial. Em 21 de março de 1930, inaugura a extensão da linha Comodoro Rivadavia-Rio Gallegos, com escalas em Puerto Deseado, San Julian e Santa Cruz. Em 16 de abril de 1930, instaura as linhas auxiliares para o Rio de Janeiro, Montevidéu, Porto Alegre e Santos. Na América do sul, deve enfrentar o mais temível inimigo dos pilotos: o vento, tão potente, com rajadas tão inesperadas, que sua habilidade conta menos do que a sorte. Em 19 de junho de 1930, Saint-Exupéry vai buscar Henri Guillaumet, salvo depois de 5 dias de marcha na neve dos Andes. Tomado numa tormenta de neve, quando garantia a ligação Santiago do Chile – Mendoza, o avião de Guillaument fora avariado e ele precisou sobreviver a 3.500 metros de altitude em pleno inverno austral.
Piloto nas linhas africanas (1931-1934)
Saint-Exupéry voltou à França em fevereiro de 1931. Após o escândalo político-financeiro, a Aéropsotale foi posta em liquidação judicial em junho de 1931 e um conselho de administração provisório gerenciava os negócios correntes. A companhia demitiu uma parte dos funcionários e suprimiu o serviço em cinco linhas. Solidário com Didier Daurat e Beppo de Massimi, Saint-Exupéry não volta à América do sul. No fim de sua folga durante a qual se casa com Consuelo, é designado para o transporte noturno entre Casablanca e Port-Etienne. Ele encaminha o correio vindo da França no Laté 26. O casal Saint-Exupéry se instala em Casablanca onde Saint-Exupéry conhece Jean-Gérard Fleury, Joseph Kessel e o doutor Henri Compte. Seu romance Voo noturno sai em outubro de 1931, bem acolhido pela crítica e coroado pelo prêmio Femnia. Mas Antoine de Saint-Exupéry é contestado por seus colegas. Eles lhe recriminam a notoriedade de aviador mais importante do que eles, uma notoriedade devida a seus livros e não às explorações aeronáuticas. Sem dinheiro apesar do sucesso de seu livro, ele continua o trabalho. Em fevereiro de 1932, garante a ligação postal entre Marselha e Alger e em agosto de 1932, é destacado para Casablanca. No entanto, sua presença incomoda. Vários pilotos (com exceção de seus antigos amigos, que lhe restam fiéis) desejam sua partida, apoiados pela nova direção, que o tira de suas funções.
Ele volta a Paris e começa a escrever artigos para o jornal Marianne, nos quais elogia a Aéropsotale e Didier Daurat. No final de 1932, é contratado como piloto de teste por Pierre-Geroges Latécoère, que construía hidraviões. Em 21 de dezembro de 1933, Saint-Exupéry teve um acidente num Laté 293 no golfo de Saint-Raphaël, que quase lhe custou a vida e quase pôs fim à sua atividade de piloto de teste.
AIR FRANCE (1934-1937)
Antoine de Saint-Exupéry se candidata à Air France em 1933, mas não é aceito. Um ano mais tarde, precisando ser reconhecida e ter prestígio, a nova companhia pretende aproveitar a notoriedade de de Saint-Exupéry. Assim, em abril de 1934, ele entra para o serviço de publicidade (imprensa) da Air France, então dirigido por Jean Chitry. Participa, como consultor, da realização de filmes promocionais, encarrega-se das relações com a imprensa, anima conferências e redige alguns artigos para a revista Air France.
Os filmes promocionais (1934-1936)
Em abril de 1934, Saint-Exupéry vai a Alger por conta de um documentário intitulado Fim de Semana em Alger, que tem por objetivo promover uma nova linha aérea entre a França e a Argélia. Em julho de 1934, é enviado em missão de estudos a Saigon (cidade do Vietnã). Encontra sua irmã Simone, que era arquivista nas Bibliotecas da Indochina francesa. Em julho de 1936, participa da realização do filme Atlântico Sul, que comemora a 100ª. travessia aérea do Atlântico sul.
Circuito de conferências no Mediterrâneo (1935)
Em novembro de 1935, Saint-Exupéry realiza um circuito de conferências para apresentar a Air France e fortalecer a glória da aviação francesa. Ele percorre 11.000 km em volta do Mediterrâneo no comando de seu Simoun C630, acompanhado de Jean-Marie Conty como copiloto e de André Prévot como mecânico. São recebidos em todo lugar calorosamente por um público que vem ouvir tanto o aviador quanto o escritor.
Prospecção na África Ocidental francesa (1937)
Em fevereiro de 1937, Saint-Exupéry sobrevoa a África Ocidental francesa (AOF), por solicitação da Air France a fim de estabelecer o itinerário de novas linhas aéreas. Ele pilota seu segundo Simoun, um C-635 de matrícula F-ANXK. André Prévot está a seu lado para percorrer os 9.000 km entre Casablanca, Tombouctou e Bamako.
PARIS-SAIGON (1935)
Em 1935, Antoine de Saint-Exupéry adquire um Caudron Simoun modelo C630. Em dezembro do mesmo ano, ele se lança no raide Paris-Saigon e tenta bater o recorde de André Japy. Em 1938, ele renova a aventura e tenta o raide Nova York – Terra do |Gogo em seu novo Simoun, modelo C635.
Paris-Saigon (1935)
Tentado pelo prêmio de 150.000 francos oferecido pelo Ministério da Aeronáutica, Saint-Exupéry se lança no radie Paris-Saigon em dezembro de 1935. É preciso ir de uma capital à outra em menos de 98:52 horas, recorde estabelecido por André Japy no início do ano. A preparação do raide se faz de modo precipitado. Ele não atribui a importância necessária aos itinerários e pede a seu amigo Jean Colas que prepare os mapas. A fim de carregar uma quantidade suplementar de combustível, decide não levar rádio, considerando que poderá navegar com os instrumentos de bordo e as estrelas.
A partida acontece em 29 de dezembro às 7:01 H do Bourget, em presença de alguns amigos: Henry de Ségogne, Didier Daurat, Léon Werth e de Consuelo. Acompanhado do mecânico André Prévot, ele percorre 3.700 km em 19:38 H até o acidente. À noite do 30 de dezembro, quando ele esboça uma descida para entrar numa massa de nuvens, o Simoun bate numa planície a 270 km/h e cai no deserto. Durante três dias, o piloto e seu mecânico andam no deserto da Líbia, morrendo de sede até serem milagrosamente encontrados por uma caravana de beduínos.
À sua chegada em Paris onde toda a imprensa consagrara a primeira página a seu desaparecimento, Antoine de Saint-Exupéry é celebrado como herói. Ele reserva a exclusividade da sua desventura ao jornal L’Intransigeant e, muito mais tarde, redige-a entre as mais belas páginas de Terra dos homens.
NOVA YORK – TERRA DO FOGO (1938)
Com o prêmio de seguro pago pela perda de seu avião encalhado no deserto da Líbia, Antoine de Saint-Exupéry comprou em 1936 um segundo Simoun modelo C635. Em janeiro de 1938, ele decidiu tentar um novo raide que deveria ligar Nova York à Terra do Fogo. Acompanhado do fiel André Prévot, embarca a bordo do navio Ile de France levando o Simoun desmontado.
Em 15 de fevereiro de 1938, Saint-Exupéry e Prévot partem de Nova York com a intenção de chegar a Punta Arenas. Eles percorreram 5.500 km até Guatemala, onde encheram o tanque de combustível em 16 de fevereiro. Ignoram ou talvez tenham esquecido que o galão guatemalteca de 4,5 litros é diferente do americano que só faz 3,8 litros, e sobrecarregam os reservatórios. Pesado demais, o avião não consegue decolar e cai na cabeceira da pista. Por milagre, não pega fogo.
Prévot sai com uma perna quebrada. Mais seriamente atingido por oito fraturas, Saint-Exupéry escapa por pouco da amputação de uma mão. Fica hospitalizado mais de um mês na Guatemala antes de convalescer em Nova York.
O GRUPO 2/33 (1939-1940)
Nos dias que se seguiram à declaração de guerra da França à Alemanha, em 3 de setembro de 1939, Antoine de Saint-Exupéry foi mobilizado. Foi designado à base de Toulouse-Francazal, numa unidade de bombardeios onde devia seguir cursos de formação.Tal situação lhe desagradava: ele quer voar.
Voluntário para a caça, foi no entanto recusado na visita médica de outubro de 1939. Fim de novembro, apesar de seus 39 anos e seu estado de saúde, consegue enfim ser designado para o 2/33, grupo de reconhecimento baseado em Orconte (Marne), que voa numa quinzena de aviões Potez 63. É na velha fazenda, convertida em campo, que Saint-Exupéry reencontra em 2 de dezembro de 1939, a esquadrilha da La Hache, em Orconte. O capitão Antoine de Saint-Exupéry é imediatamente posto no grupo pelo tenente Gavoille, encarregado de sua instrução. Ele dirá: “Ainda que não tivesse experiência com aviões modernos, Saint-Exupéry se adaptava facilmente ao Potez 63-7”. No mês de dezembro de 1939, ele está particularmente vigoroso. As saídas são raras e congelantes: Saint-Exupéry voa a 10.000 m com menos 51 graus em roupas quentes.
Em 18 de janeiro de 1940, o 2/33 foi transferido para Monceau-le-Wasst e foi confiado ao comando de Henri Alias. Nos meses seguintes, a situação de Saint-Exupéry será mais delicada e ele teve de pleitear por sua manutenção no grupo 2/33. Sua idade e seus erros de pilotagem contaram negativamente. No entanto, seus argumentos convencem e durante todo o mês de março, ele experimenta e comboia os novos Bloch 174 que saem das cadeias de montagem. A guerra-relâmpago prossegue e o 2/33 deve constatar a progressão alemã em Ardennes. Em 10 de maio de 1940, as tropas alemãs atacam a Bélgica. Quase todos os pilotos estão de licença! Saint-Exupéry se junta à sua unidade que, do Bourget (17-21 de maio de 1940), depois de Orly (21 de maio de 1940) e enfim de Nangis (3-10 de junho de 1940) multiplica os reconhecimentos sobre Arras, Amiens, Péronne, Soissons, Château-Thierry. Essas missões lhe oferecem a trama de seu livro Piloto de guerra e a missão do 23 de maio de 1940 acima de Arras lhe fornece o título inglês Flignt to Arras. Meio de junho de 1940, o capitão Alias manda partirem as esquadrilhas para a África do norte. Saint-Exupéry comboia um Farman e, via Perpignan, chega a Oran e Alger. Ele prossegue até Mers el Kébir, onde se encontra, em 3 de julho de 1940, quando a Royal Navy ataca a frota francesa. Desmobilizado em 4 de agosto de 1940, Saint-Exupéry embarca para voltar à França. E 21 de dezembro de 1940, parte em exílio aos Estados Unidos.
“VOLTEI PARA CASA. O GRUPO 2/33 É A MINHA CASA” (1943-1944)
Em 1º de abril de 1943, Saint-Exupéry desesperado por não poder servir seu país, obtém da missão Béthouart uma ordem de mobilização. Seus amigos tentam fazê-lo mudar de ideia, mas em 4 de maio de 1943, depois de uma partida precipitada, ele desembarca em Alger, onde o espera Georges Pélissier.
Em 5 de maio, ele encontra, em Laghouat, o 2/33 comandado por René Gavoille. Doravante, os homens são integrados no grupo de reconhecimento fotográfico comandado pelo coronel E. Roosevelt. Antoine de Saint-Exupéry não está no final de suas agruras: os aparelhos de seu grupo são Lightning P 38 e o regulamento estabelecido pelos americanos proíbe aos que passaram dos 30 anos de pilotar aquelas engenhocas que voam a 650 km por hora e sobem a 13.000 m de altitude. Ele está com 43 anos. O general René Chambe deve ainda intervir e Antoine de Saint-Exupéry fala com o general Henri Giraud para pleitear sua causa antes que este decida pedir aos aliados uma dispensa excepcional para um aviador que também o é.
Depois de um mês de inatividade, em junho de 1943, ele é autorizado a voar. Treina num P-38, mas sem ser designado ao 2/33. Em 19 de junho, é reconhecido provisoriamente apto a voar no P38. Em 25 de junho, é promovido a comandante e em 29 de junho passa um teste médico. Em 2 de julho, segue sua unidade na Tunísia. Em 21 de julho, efetua sua primeira missão de reconhecimento sobre a Côte d’Azur. Na volta de sua segunda missão, incidentes de pilotagem e uma certa indolência no que se refere às ordens técnicas lhe valem uma suspensão de voo em 1 de agosto de 1943.
Depois de ter multiplicado as entrevistas e as súplicas, ele obtém a autorização para voar de novo. É designado à 31ª esquadrilha de bombardeio composta de B26 Marauder, baseada na Sardenha. Chega no início de abril de 1944 e retoma sem entusiasmo o serviço como copiloto.
Em 16 de maio de 1944, obtém seu destacamento da 31ª esquadrilha no 2/33, que encontra em Alghero (Sardenha). Em 14 de junho, seu primeiro voo de reconhecimento acontece sobre Rodez e Albi. Em 23 de junho, sua segunda missão o leva a Avignon. Em 29 de junho, dia de seu aniversário, ele voa sobre Grenoble. Pousa em Borgo, na Córsega, e retorna à Sardenha em 2 de julho. Em 17 de julho de 1944, sua unidade é transferida para Borgo. Dali, os homens devem preparar o desembarque da Provença.
Em 31 de julho de 1944, Saint-Exupéry toma lugar no P38 n. 223 para uma missão de reconhecimento sobre a região de Grenoble e Annecy. Às 8:35, ele decola da base de Borgo para sua décima missão, da qual não voltará jamais.
O Mistério
(por Mônica Cristina Corrêa)
Por quase 60 anos permanecerá mistério sobre desaparecimento de Saint-Exupéry, levantando as mais disparatadas especulações, até que, em 1998, uma pista viesse a ser encontrada por um pescador marselhês. Jean-Claude Bianco puxou em sua rede uma calcificação com algo brilhante no interior. Quebrando o objeto, encontrou um bracelete com o nome de Saint-Exupéry gravado, assim como o de sua esposa, Consuelo. Presente dos editores americanos, o bracelete tinha também o endereço da Reynal et Hitchcock.
Foi longo o caminho da autenticação do bracelete puxado do mar Mediterrâneo. Inicialmente, os herdeiros de Saint-Exupéry não desejavam investigações. Mas em 2002, o arqueólogo marinho, Luc Vanrell, seguindo as pistas, encontrou os destroços do avião que era pilotado por Saint-Exupéry em 31 de julho de 1931, o P-38, nas proximidades da ilha de Rioux. |Também autenticado por seu número de tubo compressor, o avião provava que Saint-Exupéry caiu no Mediterrâneo e não alhures. Os destroços foram tirados e se encontram no museu Bourget, em Paris.
Vanrell e o pesquisador Philippe Castellano também chegaram a um piloto alemão, vivo em 2002, Horst Rippert, que afirmava ter abatido Antoine de Saint-Exupéry. Pesquisas avançaram e mostram que, de fato, Rippert dizia a verdade e, por trágica que seja, essa é a história que levou Saint-Exupéry da Terra dos homens, com a qual ele se desencantara no final de sua vida.