Saint-Exupéry

Os textos referentes à biografia e a obra de ST EX foram traduzidos e adaptados do conteúdo do site oficial sobre o autor: www.antoinedesaintexupery.com por Mônica Cristina Corrêa, com revisão de Cláudio Dutra.
As fotos pertencem igualmente ao acervo da Succession Saint Exupéry.

Vida

O Cientista

AS TÉCNICAS CIENTÍFICAS

No início do século XX, a indústria se desenvolve rapidamente na França e Antoine de Saint-Exupéry, desde a infância, era um espectador curioso dos progressos técnicos. Tudo o atrai, os automóveis e as locomotivas a vapor, os motores a explosão e acima de tudo, as engenhocas voadoras. Uma vez adulto, ele fica muito apaixonado pelas novas aplicações possíveis da Ciência e deposita patentes de invenções. Durante suas férias em Saint-Maurice, Antoine de Saint-Exupéry, aos 8 anos, desenha projetos para uma bicicleta voadora com motor. Ele realiza essa invenção com a ajuda de um marceneiro da vila, sem nunca conseguir fazê-la decolar. Recicla o motor a gasolina para ajustar um sistema de irrigação que explode e machuca o pequeno François no supercílio.

Quando pode, vai ao aeródromo de Ambérieu bem próximo do castelo de Saint-Maurice. O local é um dos berços da grande aventura da aviação. Rapidamente, torna-se um frequentador dos hangares, onde observa o trabalho dos mecânicos. Os motores o fascinam tanto quanto os voos.

Contratado como representante dos caminhões Saurer em 1924, ele faz um estágio de dois meses nas fábricas de Surenes, antes de percorrer as estradas da França para vender os caminhões. Rico dessa experiência, ele se vangloria de ser capaz de desmontar e remontar, sem dificuldades, o motor dos veículos que vende.

Na companhia Latécoère em 1926, sua atividade começa, segundo o costume, por um estágio nas oficinas de Toulouse Montaudran. Enfiado nos macacões, aprende a escolher e manipular ferramentas, prova sua destreza e sua inteligência para mecânica.

AS PATENTES DE INVENÇÕES

AS PATENTES DE INVENÇÕES

Formado piloto, Antoine de Saint-Exupéry busca soluções técnicas aos problemas que encontra cotidianamente durante suas missões. Ele preenche cadernos com notas, cálculos e desenhos. Quando lhe parece ter uma resposta satisfatória, patenteia suas ideias.

A primeira patente que depositou data de 1934 e diz respeito a um sistema para aterrissagem sem visibilidade. Dá provas de espírito científico no modo de abordar as questões e pela engenhosidade técnica para resolvê-las. Gasta tempo em explicar com detalhes suas invenções a seus melhores amigos, entre os quais alguns não têm a menor competência técnica e ficam com dificuldades em acompanhar suas demonstrações.

Persuadido da importância de suas descobertas, Saint-Exupéry faz de tudo para aplicar as melhorias técnicas. Durante o inverno rude de 1939 em Orconte, integrante do grupo 2/33, ele propõe melhorias aos aviões militares. Sugere que se utilize uma solução à base de metílico glicólico a fim de impedir que as metralhadoras bloqueiem por causa do gelo quando em voos em alta altitude. Chega a abordar as autoridades militares francesas para aplicar essa descoberta, que é usada ainda nos dias de hoje.

De 1934 a 1941, ele deposita 11 patentes e 4 aditivos (um sob o pseudônimo de Max Ras) no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) na França e uma patente nos Estados Unidos. Nenhuma dessas patentes lhe trouxe qualquer remuneração. Mas todas estão conservadas e algumas de suas ideias se encontram ainda hoje os aparelhos americanos.

No entanto, Antoine de Saint-Exupéry recusou, em 1940, um posto no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), que lhe permitiria satisfazer sua paixão pelas técnicas e continuar suas pesquisas na área de aviação. Ele prefere recusar o posto que o subtrairia aos perigos e não renunciar definitivamente a seu engajamento como piloto.

AS REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

Antoine de Saint-Exupéry tem a vantagem de possuir, desde sua preparação para o concurso na Escola Naval, uma abordagem de matemática que lhe permite acompanhar um discurso inacessível aos não iniciados.

Entre as obras que não larga, estão as do matemático, físico e astrônomo britânico James Hopwwod Jeans (1877-1946), autor de várias contribuições sobre a teoria dos quantas. Sobre o mesmo assunto, Saint-Exupéry leu livros de dois especialistas: o físico alemão Max Planck (1858-1947) e do matemático e físico francês Louis de Borglie (1892-1987).

Fascinado pela complexidade misteriosa do cosmos, ele tem ao alcance da mão obras do astrofísico britânico Arthur Stanley Eddington (1882-1944).

Teve a oportunidade de discutir com o físico Ferdinand Holweck (1890-1941), professor na Escola Superior de Física e de Química Industriais de Paris. O professor trabalhou sob a direção de Marie Curie no Instituto do Radium de Paris.

Na área de aeronáutica, Saint-Exupéry conheceu os trabalhos do engenheiro e físico especializado em Théodore Von Karan (1881-1963), teórico da aerodinâmica que lecionava na Universidade Tecnológica da Califórnia. O espírito científico ajuda Antoine de Saint-Exupéry a resolver alguns problemas práticos ligados à sua atividade de piloto. Mas sua curiosidade vai bem além e seus conhecimentos de matemática e de física lhe dão acesso a uma compreensão mais exata do mundo. Suas leituras chegam a domínios muito variados, indo da filosofia à física fundamenta, à economia política, à psicanálise ou à astronomia.

O PROBLEMA DO FARAÓ

Prova suplementar de seu gosto por matemática, que para ele era exercício de espírito, Antoine de Saint-Exupéry é autor do “Problema do Faraó”. Ele estabelece os termos desse problema em 1935, depois de uma viagem ao Egito. As páginas consagradas ao problema foram publicadas em 1957 pelas edições Dynamo num folder em dezenas de exemplares, que se tornaram raros.

Eis os termos do problema:

Um Faraó decidiu erguer, usando apenas pedras talhadas em cubos de 10 cm de lado, uma estela maciça gigante em forma de paralelepípedo retangular, cuja altura era igual à diagonal da base. Ordenou a um certo número de funcionários que juntassem cada um uma parte igual de materiais previstos para a ereção da estela. Depois, ele morreu. Os arqueólogos contemporâneos só encontraram um desses depósitos. Eles o desmembraram em 348 960 150 cubos de pedras. Não souberam nada dos outros depósitos, senão que o número total era, por razões místicas, um número primo. Essa descoberta lhes permitiu entretanto calcular rigorosamente as dimensões da estela prevista e demonstrar que só havia uma solução possível. Façam o mesmo.

NB) 1. Esse problema não precisando de nenhum tatear numérico, damos-lhes, para evitar o único trabalho fastidioso, a decomposição de 348 960 150 em três fatores primos, ou seja: 2.35.52.7.11.373

NB) A solução, por empirismo laborioso, não conta.