O jornal carioca O Paiz, de 14 de janeiro de 1925, apresentou importantes detalhes sobre o raid Rio-Buenos Aires dos pilotos franceses, Vachet, Hamm e Lafay, e dos mecânicos Estival, Gonthier e Chevalier, da Companhia Latecoere. O objetivo do raid era consolidar o melhor roteiro dos voos regulares para Buenos Aires a fim de realizar o transporte de correspondências, valores, mercadorias e também de passageiros, a exemplo do que já ocorria na linha Toulouse-Casablanca, da mesma companhia.
Os aviões do raid Rio-Buenos Aires partiram do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, depois de terem sido montados, vistoriados e de passarem por voos de ensaio, com a missão de
realizar a primeira demonstração prática, entre nós, das
possibilidades da aviação mercante, e a determinar o roteiro
mais racional a ser seguido pelos aviões de uma linha regular
como a que poderá instalar dentro de poucos meses a
Sociedade Latécoère, não só nos prendendo ás Republicas do
Prata por um trajecto de poucas horas, como nos ligando por
poucos dias da Europa¹.
Apesar da animação com o raid, o jornal alertava para as condições precárias que enfrentariam os pilotos, considerando que não havia no Brasil terrenos adequados às necessidades da aviação comercial, além de armazéns de depósito e hangares. Mas, com suas escalas em várias cidades do litoral brasileiro e passando por Montevidéu, destacava que o propósito da Latécoère, não era somente fixar o caminho aéreo do Brasil, mas “promover a instalação de todos os serviços indispensáveis ao seu natural funcionamento” e novamente a excitação com os novos rumos da aviação retomava seu lugar na página de O Paiz em 14 de janeiro de 1925.
Com grande entusiasmo, noticiava o início naquele dia, do raid Rio-Buenos Aires e fazia um prenúncio:
Esse ‘raid’ que a pericia adestrada de seus pilotos e mecânicos tornará infalivelmente bem sucedido, faz antevêr o céo sul-americano, dentro em breve, sulcado de linhas aéreas, cujos aviões levarão, em todos os sentidos, com a rapidez moderna dos Renault, o progresso das industrias e do comércio deste continente².
Prevendo uma maior agilidade nas comunicações, o Paiz destacava o uso dos motores da marca Renault nos aviões do raid, em uma provável referência aos feitos da fabricante de carro que havia recém-lançado³ o Renault 40CV, que atingia a marca de 140 km/h. A proeza dos pilotos franceses, com seus aviões Breguet, aumentaria “a concordia entre as nações, pelo incremento do trabalho” afirmava em sua página 5. De tudo, é certo que a comunicação entre os continentes nunca mais seria a mesma com o advento da aviação comercial que se iniciou com estes raids, verdadeiros arrojos dos pilotos pioneiros.
¹O Paiz. A Aviação commercial na America do Sul. Rio de Janeiro, 14 jan. 1925. Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional. Disponível em: <https://memoria.bn.br/DocReader/cache/5087103369257/I0019967-20Alt=002339Lar=001543LargOri=004891AltOri=007415.JPG>. Acesso em: 28 nov. 2018.
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Publicado em 04/03/2019