A Aéropostale em Pelotas

Pelotas foi uma escala de apoio da Aéropostale e funcionou desde 1927. A primeira aterrissagem nessa cidade foi realizada às 10 horas do dia 15 de janeiro de 1925, quando da primeira viagem de inspeção, a “Missão Roig”, enviada por Pierre-Georges Latécoère. Assim, os pilotos partiram do Rio de Janeiro e pousaram em Florianópolis, depois em Torres, Porto Alegre e Pelotas, última etapa antes de Montevidéu.

Segundo as descrições dos pilotos, “Os dois aviões (Bréguet XIV) aterrissam em Pelotas sem incidentes e o terreno sobrevoado é plano e as terras numerosas. De todo lado há pradarias, e o único inconveniente reside nos fios de arame farpado que dividem os campos e pradarias, os quais não são sempre visíveis”. (Laurent Albaret, historiador francês).

Campo Pelotas

Campo Pelotas

A partir de 1927, quando da compra de 93% das ações de Latécoère por Marcel Bouilloux-Lafont, essa escala foi preparada e as instalações colocadas pelo novo patrão. Saint-Exupéry passou várias vezes por Pelotas, assim como Jean Mermoz e outros, segundo revelam os livros, entre os quais, o de Marcel Moré.

Capa Moré

Vindo de Buenos Aires, Saint-Exupéry aterrissou um dia em Pelotas, no comando de um Laté-28. Só devia fazer conosco uma escala técnica antes de partir para o Rio de Janeiro. Os mecânicos da pista encheram o tanque e fizeram as verificações enquanto trocávamos informações; sempre preocupado com o bom funcionamento da Linha, Saint-Exupéry queria saber se tudo estava bem em Pelotas e se eu não tinha nada a demandar.
Depois, ele se instalou na cabine e ligou o motor para aquecer um pouco, quando eu ouvi um barulho estranho, inaudível na cabine de pilotagem. Fiz-lhe imediatamente sinal de que alguma coisa estava errada. De repente, Saint-Exupéry teve um movimento de mau humor, pois tinha pressa de chegar ao Rio, onde era esperado. Mas quando lhe pedi que escutasse aquele barulho anormal do motor e lhe disse que achava muito imprudente partir naquelas condições, ele se rendeu aos meus argumentos sem nem sequer discutir e aceitou pegar para substituir um Laté-26, menos veloz e menos confortável, que tínhamos como reserva.
Assim que ele partiu, pus uma equipe no motor do Laté-28 de Saint-Exupéry. O barulho alarmante vinha do redutor, uma peça essencial, pois seu papel consiste em “reduzir” o número de giros do motor, elevado demais para a hélice. (…) Estimei, naquela época que, naquele estado, o redutor não teria aguentado mais que 15 minutos de voo. A peça teria, então, estilhaçado e a hélice ter-se-ia instantaneamente despregado. Talvez Saint-Exupéry conseguisse pousar o aparelho em pane catastrófica – mas jamais saberemos o que “poderia” ter acontecido. Não se trata, para mim, de querer me gabar de ter salvado a vida de Saint-Exupéry; neste caso, todos os mecânicos que lhe prepararam um avião o fizeram. Naquele momento, foi simplesmente mais “evidente”…
Na sua passagem seguinte (por Pelotas), eu dei a Saint-Exupéry, que conhecia muito bem a mecânica, a explicação de sua pane e ele teve palavras extremamente amáveis para me agradecer, mas a gentileza era corriqueira nele e não surpreenderia ninguém.
Li, em seguida, a maior parte das obras de Saint-Exupéry; mais uma vez, digo que não posso me pronunciar sobre seu talento de escritor, mas posso afirmar que ele fala da aviação daquela época e do ambiente da linha de uma maneira que, exaltando a aventura que vivíamos até fazer desta uma verdadeira epopeia, não trai em nenhum momento a verdade. Como piloto, Saint-Exupéry era dos nossos, sem reserva. No entanto, sentíamos ao mesmo tempo que ele via mais longe e que era habitado por algo mais. Guardo dele uma lembrança deslumbrante, e lamento não tê-lo conhecido melhor.
Quando, bem mais tarde, registrei a patente de minha invenção, descobri que Saint-Exupéry havia registrado 18 patentes ao todo, entre os anos de 1934 e 1940; é, eu acho, um dos aspectos menos conhecidos de seu personagem de múltiplas faces”.

Eu vivi a aventura da Aéropostale, de Marcel Moré, mecânico que trabalhava em Pelotas, pela Aéropostale.
Colaboração de William Desmond.
A publicação é de 1980. Tradução inédita, por Mônica Cristina Corrêa

Aeroplace de Pelotas

Aeroplace-Aerodrome-de-Pelotas
Gentilmente cedido pelo Musée Air France (Paris) à Presidente da AMAB