Trajetória mais turbulenta e igualmente trágica foi a de Elizabeth, “Bessie” Coleman, também chamada “Queen Bess” ou “Brave Bessie”, em grande parte pela coragem com que ela enfrentou o preconceito por ser negra e mulher nos EUA durante os primeiros anos do século passado.
De pais descendentes de escravos – e o pai mestiço também com índios –, com dificuldades financeiras, Bessie nasceu em 26 de janeiro de 1892, numa pequena cidade do Texas. Ela teve de deixar a escola cedo, a fim de ajudar a mãe a criar suas irmãs mais novas, mas em 1915, ela deixará a terra natal por Chicago, onde atua como manicure. Ali viviam dois de seus irmãos mais velhos, que vieram a participar da Primeira Guerra Mundial em 1917, no 8º. Batalhão da Guarda, composto exclusivamente por homens negros. Um deles lhe contaria sobre mulheres francesas que pilotavam aviões. Isso faria Bessie sonhar com a aviação.
Mas não era a primeira vez que ela ouvira falar de pioneiras. Com falta de escolaridade suficiente para cursar o secundário, Bessie se inscrevera em cursos preparatórios para uma universidade aberta (por e para a comunidade afro-americana em 1897). Numa oportunidade, uma professora comentou sobre as pioneiras da aviação, a baronesa Delaroche, Harriet Quimby… Bessie não se esqueceria.
Não obstante, em meio aos conflitos raciais de Chicago, à situação dos negros naquele tempo, nenhuma escola de aviação aceita uma mulher negra como aprendiz. Assim, com suas parcas economias, apoiada por Robert Abott (rico advogado e editor negro do famoso jornal “Chigaco Defender” ), Bessie segue rumo ao país promissor nesse sentido, a França. Ela já se preparara fazendo aulas de francês depois das jornadas de trabalho no salão de beleza.
É para a escola de aviação dos irmãos Caudron, em Crotoy (norte da França, à beira mar no Canal da Mancha), fundada em 1910 pelos construtores pioneiros, que ela irá.
Em 1921, com apenas sete meses de curso, Bessie recebe o brevê da conceituada Federação Aeronáutica Internacional – e se torna a primeira norte-americana a obtê-lo.
De retorno aos EUA, Bessie é recebida como uma gloriosa vencedora e se vale de sua fama para a luta contra a segregação racial. Seu sonho? Uma escola de aviação para todos, sem distinção de cor…
Em setembro de 1922, ela retorna à Europa, desta vez para se tornar pilota de acrobacia. Em 1923, ela sofreu um acidente que a impedirá de voar até 1925, pois teve muitas fraturas.
Em 30 de abril de 1926, durante uma exibição aérea na Flórida, ao deixar o comando a cargo do seu mecânico – também piloto –, e ficar em pé sobre o assento traseiro para procurar um local adequado a um salto de paraquedas, a aviadora foi projetada da cabine por um brusco descontrole da aeronave; tanto ela quanto o avião despencam do céu. O voo se transformou em queda livre.
Ao descer pelo ar, pássaro sem asas, Bessie encara o abismo até que se desfaz ao bater no solo antes mesmo de o aparelho se estilhaçar matando também o mecânico.
Hoje, a história de Bessie se confunde com as lendas e mantém vivo o espírito que incorpora toda forma de resiliência e superação.
Em 1929, finalmente, surge a escola de aviação com que Bessie sonhara, para afro-americanos, em Los Angeles. E o nome da aviadora é celebrado também no país que a acolheu sem preconceitos e lhe ensinou a voar, a França. Em Paris, Nice e Poitiers, há ruas “Bessie Colleman” e um autor francês, Jacques Béal, que lhe consagrou uma biografia “O anjo negro”.
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